quarta-feira, 31 de outubro de 2012

SER CHAMADO DE NARIGUDO NÃO ME FEZ DEPRIMIDO: eu poderia ter virado emo ou bandido?

Abril, 1984.

Quando nasci, num hospital qualquer da Pauliceia, ninguém imaginaria que, adiante, aquela criatura simétrica e apaixonante sofreria chacota alheia. Meus 51 cm de altura, quase 4 kg e olhos castanhos avantajados   me credenciavam à lista dos 100 bebês mais irresistíveis do mundo. Talvez por isso eu tenha até sido vítima de mau olhado ou objeto de desejo de ladrões de recém-nascidos, que me venderiam por uma fortuna a algum casal de Paris ou Berlim, tamanho era o meu poder de tornar feio todo o resto. Veja isso pelo lado bom: eu seria quem sou na Europa, e não em Getulina-SP ou Alto Araguaia-MT.

Mas o tempo passou, eu envelheci e as arestas despontaram. A maior delas, o meu nariz. Aos 15 anos foi o auge. Quem me via ali pela primeira vez era capaz de jurar que, antes de mais nada, formou-se meu nariz e a partir dele o resto do corpo veio. Não era a minha cabeça que continha o nariz. Este é que comportava cabeça, tronco e membros. Enfim, a minha existência dependia do meu nariz, e não era por motivo de respiração, apenas. Eu tinha ali a descendência metade libanesa, metade italiana exposta em sua face mais cruel. Não foram poucos os que me avistavam de perfil e garantiam que eu havia sofrido uma espadada na cabeça, e parte dela, grande inclusive, ficara de fora.

Mais magro, entre os 13 e vinte e poucos anos, atendia pela alcunha de narigudo ou simplesmente nariz. Se eu era feliz nessa época? Até era, mas confesso que os pensamentos imprudentes me tomavam em alguns momentos, podendo até praticar desatinos: ameaçar suicídio, provocar atentado à bomba em algum evento de beleza ou entrar com requerimento junto à Corte Internacional reivindicando o fim da produção mundial de espelhos.


Não foram poucos os que diziam: “aspirador de pó” ou “que napa!” ou “deixe um pouco de oxigênio pros outros” ou “se você fosse jogador de futebol, Thiago, estaria sempre em impedimento”. Eu ouvi tudo com certo humor e resignação. Eu também não era um santo e tinha estratégias à altura.

Não sei ao certo, mesmo porque a legislação não é específica sobre isso, se os elogios dirigidos a mim se configuravam como bullying. É fato que sempre assimilei tudo em tom de brincadeira, tendo o entendimento de que não passava de gozação. De qualquer forma, poderia ter se tornado um trauma, uma frustração que seria projetada nas minhas relações posteriores, seja na escola, no trabalho ou na sociedade. Não foi o que ocorreu.

A linha entre a tiração de sarro e a ofensa verbal é estreita. Além da dificuldade de julgar se a criança maltratou outra, toda a questão é subjetiva, pois cada um reage de uma forma a uma brincadeira ou agressão. E é da criança brincar, infringir regras, falar aquilo que vê. E a gente vai permanecer ainda por um bom tempo entre o “não” excessivo, que veta a espontaneidade, e o medo de que uma palavra mal posicionada fira alguém durante um bom tempo.

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A GLOBO BOTA AS ASAS DE FORA E ESCONDE O BOM JORNALISMO [PARTE II]

A outra derrapada da Globo aconteceu no canal pago Sportv. Na última sexta, dia 26, o apresentador André Rizek iniciou o programa Redação Sportv tratando de economia internacional. Segundo marcadores econômicos, o PIB da região britânica cresceu 1% nos meses entre julho e setembro, período que abrigou as Olimpíadas 2012, na contramão do que vive a Europa atualmente, afundada na crise. Tenhamos mais cautela numa análise dessa natureza.

Quatro pontos chamam a atenção: primeiro, o Sportv faz isso para endossar a sua opinião favorável à realização, aqui, dos Jogos, assim como da Copa, a despeito de toda a corrupção que envolve a realização desses dois eventos, especialmente em relação aos processos licitatórios e construção de locais de provas e jogos, quase que integralmente não divulgada pelas Organizações Globo, devido ao acordo de cavalheiros que têm com o COB e CBF, em troca da exclusividade de algumas transmissões.


Segundo, a notícia dá descontinuidade ao noticiário esportivo, já que no dia anterior o líder do Campeonato Brasileiro, o Fluminense, havia vencido o Coritiba por 2x1, abrindo nove pontos de vantagem para o Atlético-MG. Normal seria que, num programa de esportes, o principal evento esportivo do país ganhasse repercussão ao ver o tricolor do Rio aproximar-se do título. Mas, não. A notícia de destaque foi o crescimento econômico da Inglaterra no terceiro trimestre do ano, ainda que o avanço tenha sido de um magro 1%.

Terceiro, é evidente que a economia da Grã-Bretanha cresceria no intervalo entre julho e setembro. Pessoas do mundo todo foram a Londres, e quem vai a uma Olimpíada tem grana e vontade de gastar bastante. O consumo cresce, o dinheiro advindo de todas as partes do planeta gira, e seria absurdo se a região que abrigou os últimos Jogos não tivesse números positivos. Quando saírem os índices de outubro a dezembro, muito provavelmente a Inglaterra voltará ao normal, seguindo o ritmo de estagnação ou recessão, a exemplo do restante da Europa. O dado difundido e elogiado no programa é quase fictício por não retratar a conjuntura sob perspectiva mais ampla. Temos, então, uma cifra mais virtual do que real.


Quarto ponto: o fato da economia crescer não representa que os problemas pontuais estejam resolvidos, como transporte público, saneamento, desemprego. Ao contrário, pode até maquiar uma realidade menos promissora, assim como na época do milagre brasileiro da bem extinta e pouco saudosa ditadura militar. O Brasil, por exemplo, sempre foi um país rico, mas dizer que a sociedade o é ou foi não condiz com o que está vigente. Para o Reino Unido, vale a mesma prerrogativa, apesar da diferença entre país rico e população rica ser bem menos díspar do que cá.

A qualidade das produções da Globo, além de alta, atingiu um patamar que nenhuma outra emissora do país tem. Mas que o jornalismo poderia estar mais comprometido com a informação, com a sociedade, poderia. Iria infringir seus próprios interesses e as conveniências de seus “sócios”, mas implementaria o que lhe é cabível, a dura e prazerosa missão de tornar público o que é relevante ao cidadão.

segunda-feira, 29 de outubro de 2012

A GLOBO BOTA AS ASAS DE FORA E ESCONDE O BOM JORNALISMO [PARTE I]

A Globo, por ser o que é, desperta no público e na própria mídia opiniões adversas, normalmente extremadas. É inegável a capacidade que a emissora tem de produzir entretenimento. A telenovela é o maior exemplo disso. Ao concentrar em seu corpo de profissionais os melhores atores, diretores e autores, faz das suas tramas parte integrante da vida dos brasileiros há algum tempo. E é impressionante como entra ano, sai ano, sem que a qualidade caia. Avenida Brasil é o argumento certeiro contra quem se opõe a isso.

Nas transmissões esportivas, acontece o mesmo. Até por deter, em diversos esportes, a exclusividade de transmissão – fato que emperra a diversidade de informação e divulgação, além de que, sem concorrência, a qualidade tende a estagnar –, o público tem acesso privilegiado a vários eventos. Com o poder aquisitivo do brasileiro em alta, os canais pagos estão a um passo, seja em casa ou nos bares. No caso do futebol, as transmissões interativas e repletas de câmeras por todos os lados fazem com o que o torcedor, lamentavelmente, não sinta tanta falta da arquibancada. A violência, os transportes precários e o horário tardio de algumas partidas também afastam o torcedor dos campos.

Mas o que a emissora carioca fez na última semana é o que se pode chamar de “deslealdade jornalística”. Em dois temas distintos, agronegócio e esporte, o maior grupo midiático do Brasil negligenciou informações, ao preferir privilegiar a notícia que lhe é conveniente, porque agrada também aos seus.


Há uma semana, dia 22, a jornalista Eliane Brum publicou no portal da revista Época, veículo pertencente às Organizações Globo, um texto incisivo sobre a situação calamitosa por que passa um grupo de índios Guarani-Caiovás, que vive em Iguatemi-MS (para conferir a matéria na íntegra, acessar http://revistaepoca.globo.com/Sociedade/eliane-brum/noticia/2012/10/decretem-nossa-extincao-e-nos-enterrem-aqui.html?fb_action_ids=154451364700812&fb_action_types=og.likes&fb_source=aggregation&fb_aggregation_id=288381481237582). Ameaçado de extinção, o grupo recebeu o decreto da Justiça Federal, exigindo a saída dos índios dali, com um posicionamento de resistência, muito semelhante ao retratado no livro “Enterrem meu coração na curva do rio” (Dee Brown), que depois virou filme com o mesmo nome. E índios são expulsos, intimidados e mortos em nome do agronegócio, da monocultora, das exportações, enfim, de tudo aquilo que está encalacrado na alma desse país e que atende a interesses de pequenos, porém poderosos grupos.

Dois dias depois, o Jornal da Globo trouxe uma matéria de pouco mais de dois minutos, relatando sobre os benefícios da soja, especialmente em Mato Grosso, o maior produtor nacional. A notícia mostra que, em Sorriso, município que ocupa a primeira posição no PIB da agricultura, negociações imobiliárias e cirurgias plásticas são feitas tendo como moeda de troca o grão (confira, no link a seguir, a matéria do JG - http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2012/10/soja-vira-moeda-de-troca-no-centro-oeste-do-pais.html).


Só que o que o JG não falou é que a prosperidade agrícola do MT, impulsionada pelo comércio da soja, vem em grande parcela à base da expulsão e matança de índios, para que as tribos deixem espaço para o plantio em larga escala. Os poucos índios que restam são encurralados em reservas cada vez menores. Há o desvirtuamento da cultura indígena, esta que foi responsável pelo surgimento do Brasil enquanto cultura, povo, enquanto algo que o identifique perante o mundo.

Ainda que a Globo possa alegar que divulgou tudo isso em um de seus canais, a Época, era compromisso do Jornal da Globo também fazê-lo, não só porque o jornalismo deve passar por cima de interesses particulares, e informar, como também levar em conta que a menor audiência do JG é bem maior que o público que lê a revista. A maioria ficou com o jornalismo do bom mocismo de William Waak, e não com a informação de fato de Eliane Brum. Enfim, a emissora legaliza e comemora os números do setor primário da economia, ainda que às custas do atentado à vida humana.

[continua no post de amanhã]

quarta-feira, 24 de outubro de 2012

LIMPE OS PÉS, NÃO FAÇA BARULHO... ESTAMOS TE ENGANANDO!

A tentativa de glamourizar as ações, tornar tudo muito respeitoso, inofensivo e bonito, como relatamos ontem, é o reflexo do que se passa nos nossos estádios, especialmente os mais novos construídos para a Copa de 2014. Como se não bastasse a higienização das arenas, fazendo com que todos os setores tenham acesso caro, o que inibirá a presença de todas as classes nos campos, os estádios públicos são financiados pelo dinheiro nosso, para depois serem entregues à iniciativa privada. É bem-vinda a mudança para melhor, com acomodações mais confortáveis e seguras, ao contrário do que o brasileiro enfrentava há alguns anos. Mas se for a um preço muito elevado para o bolso do protagonista de tudo isso, o torcedor, a validade será nula.

Naquilo que era o Maracanã (só se manteve a carcaça, tombada como patrimônio cultural) foram investidos, até agora, quase R$ 900 milhões. Até o fim do próximo ano, data prevista para o encerramento das obras, o custo deve ultrapassar a marca de R$ 1 bi. A reconstrução é financiada pelo povo, que não ficará com a gestão, pois o Estado, para desonerar os cofres dos gastos com manutenção, irá licitá-lo a empresários.


De acordo com o edital, o arrendamento vale por 35 anos, e o Estado cobrará da empresa vencedora o valor de R$ 7 milhões ao ano. A conta não bate. Serão 245 milhões de reais ao fim das três décadas e meia. Daqui a 35 anos, os cofres públicos terão recuperado pouco mais de 27% do que custeou. É um balde de mamão com açúcar para a iniciativa privada, que irá lucrar, no decorrer desses anos, com os eventos que promover ali: futebol, UFC, shows de música. Sem custo algum para reconstruir o local, a empresa que vencer o certame pegará tudo pronto. O mesmo acontece em todos os outros estádios, com exceção do Beira-Rio e da Arena da Baixada, não por acaso as duas obras mais atrasadas. Onde tem dinheiro público, a coisa anda, e bem. O estádio do Corinthians é uma exceção, mas repleto de irregularidades também.

Assim como na Europa, aqui no Brasil tem-se a ideia de que encarecendo o acesso, a violência diminui, como que dizendo “o culpado pelos confrontos entre torcidas, mortes de inocentes, é do pobre”. O problema da criminalidade, seja nos estádios ou em qualquer outro lugar, tem duas motivações: a falta de policiamento e a impunidade, a sensação de que nada acontecerá, mesmo que o delito seja imenso.

O problema de tanta pompa já é questionado pelo senso comum: investe-se dinheiro público em estádios, negligenciando educação, saúde, saneamento, segurança, moradia. É uma mentalidade batida, mas que faz sentido. O Brasil executa o caminho inverso, de propósito, porque bota dinheiro na mão de políticos e empresários: ao invés de investir no país, desenvolvê-lo e prepará-lo para a Copa, faz-se primeiro o mundial, e depois a gente vê se o país cresce.



A proposta de um grande evento vem acompanhada de um legado, aquilo iniciado na Copa ou Olimpíada que ficará à posteridade para uso e desenvolvimento social. Qual o legado da Arena Pantanal, por exemplo, erguida em Cuiabá? Um estádio para 40 mil pessoas numa região sem apelo ao futebol. Manaus, Natal e até Brasília estão na mesma situação. (Para entender o que poderá acontecer com as arenas depois da Copa, ver http://copadomundo.uol.com.br/noticias/redacao/2012/10/24/quatro-dos-12-estadios-da-copa-devem-ser-elefantes-brancos-apos-torneio-diz-estudo.htm). Não haverá utilidade ao futebol, nem a um projeto social voltado ao esporte. Essas arenas irão se tornar o que se convencionou chamar de “elefantes brancos”, assim como algumas obras feitas para o Pan-2007, no Rio, que não servirão às Olimpíadas de 2016. O Estado botou dinheiro lá, gastou, enriqueceu alguém e... agora não servem. Façamos outras. É, sim, obrigação das prefeituras, governos estaduais e da União bancar a construção e ampliação do transporte público, melhoria de ruas e avenidas, aprimoramento de hospitais, do policiamento, dos aeroportos. Enfim, tudo o que ficará depois, e não irá embora junto à Copa.

Futebol está ficando chato, porque limpinho por todos os lados, silencioso por todos os lados, a um custo que nem todos os lados poderão pagar. O povo será excluído, e esse esporte, que abocanhou as mais diversas classes e culturas, corre o risco de meter os pés pelas mãos. O torcedor – o que conseguir pagar ingresso – voltará a usar terno, gravata e sapato para ver jogos in loco. O pobre, que também pagou pela elitização das arenas, só verá as disputas pela TV, talvez até num aparelho irretocável, mas sem a emoção da massa gritando GOL.

terça-feira, 23 de outubro de 2012

A BOLA, O APITO E O MARTELO

Em tempos de STF e mensalão, quem atrai holofotes é o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), interferindo – ou tentando –, mais do que deve, no andamento do Campeonato Brasileiro. Assim como na justiça comum, é necessário que o promotor ou procurador formule e ofereça a denúncia, e a partir disso a Corte avalia se põe em julgamento, absolvendo ou punindo o réu, ou se descarta a peça acusatória.

Se ao menos por enquanto o STF vem fazendo o que lhe cabe, que é analisar a denúncia e, com base na lei, incriminar ou inocentar os réus nas mais variadas acusações de crimes, o STJD, na figura de seu procurador geral, Paulo Schmidt, abusa da intervenção.

O que mais chama a atenção tem relação com o ocorrido no belo jogo do último domingo entre os dois melhores times do campeonato. O vice-líder Atlético-MG venceu o ponteiro Fluminense pelo placar de 3x2, em partida disputada no Estádio Independência, em Belo Horizonte. Além dos cinco gols, bolas na trave, chances perdidas e a vantagem de nove pontos cair a seis, tornando o campeonato menos insosso na briga pela liderança, o protesto da torcida mineira não caiu bem aos olhos da justiça desportiva.


Os atleticanos situados atrás de um dos gols expuseram um mosaico que evidenciava a sigla da CBF (Confederação Brasileira de Futebol), de ponta cabeça, entre as cores vermelha, verde e branca, representativas do tricolor das Laranjeiras. A torcida do Galo protestou contra, segundo ela, um favorecimento ao Fluminense em alguns jogos-chave, justificando a larga vantagem obtida pelo clube carioca.

Cá pra nós, todos os times são ajudados e prejudicados pela arbitragem. E tudo por um motivo bastante simples: os nossos juízes são péssimos. Embora não dê pra botar a mão no fogo, é muito provável que não seja má fé. É baixa qualidade nos aspectos técnico e disciplinar. A reclamação da massa atleticana procede, como também procede reclamar de erros em favor do Galo e prejuízos ao Flu. Simples. (Mais sobre o assunto, migrar para http://semcensor.blogspot.com.br/2012/08/voce-e-melhor-do-que-um-arbitro-de.html)

Mas daí a procuradoria geral do STJD oferecer denúncia à Corte porque a manifestação do torcedor foi ofensiva, podendo gerar violência, é de um exagero bem dispensável ao futebol, ainda mais em reta final. Sim, o Atlético corre o risco, mesmo que remoto, de perder mandos de campo. Há uma chance muito grande do Tribunal não acatar a denúncia, o que seria belo ao futebol. De interferências externas, com uso de vídeos e julgamentos por todos os lados, sem contar nos reincidentes erros de arbitragem, o campeonato já está saturado. E como seria melhor se tudo fosse definido dentro das quatro linhas, com defesas e gols decisivos.

Futebol é esporte apaixonante. Não é promissora a ideia de querer vetar manifestações de qualquer espécie. Quando a massa se junta, fica difícil conter a insatisfação coletiva, que deveria, inclusive, ser usada em outras esferas, com a mesma eficiência do futebol. Pena a política, por exemplo, ser incapaz de organizar manifestos assim. Não houve violência, tentativa de agressão. Ficou configurada ali uma revolta pacífica, garantida pela Carta de 1988 como liberdade de expressão, feita em BH, repito, sem prejuízos físicos, sem baderna, sem atos violentos.

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

É DO JORNALISMO BATER E APANHAR

Procuro não escrever textos que contenham auto-testemunho, aqueles em que o autor fala de algo que ocorreu com si mesmo. Mais válido, em se tratando de jornalismo, falar acerca do que acontece lá fora. Enfim, qualquer situação com que a massa possa se identificar. Eis aí um dos pontos de partida para que o texto jornalístico seja lido ou não.

Mas, admito, em alguns casos o depoimento próprio tem a sua valia. Lanço mão, hoje, dessa estratégia para colocar em discussão com jornalistas, estudantes e público em geral alguns meandros dessa atividade que expõe extremos.

Na semana seguinte às eleições do dia 7, escrevi um artigo sobre o pleito em Getulina, abordando os números na votação para prefeito e vereador, além de propor análises sobre o que significavam todas as cifras. Os resultados, em qualquer lugar, todo mundo conhece, e é válido ao profissional de imprensa oferecer algumas reflexões pertinentes, novas, que vão além do que já está posto.

O trabalho de uma semana inteira, com cinco páginas, recheado de pesquisa e precisão de dados, foi publicado no domingo seguinte, dia 14, no semanário de Getulina-SP, o Getulina Jornal. Para este blog, o artigo foi dividido em três partes postadas em 16, 17 e 18 de outubro.

Entre um sem número de informações, estava ali um índice curioso: um dos candidatos a prefeito recebera, apenas, 55 votos. Uma quantidade irrisória, a considerar que, caso fosse postulante a cargo de vereador, não conseguiria se eleger nem com o triplo de escolhas. Entrando nas análises para compreender por que uma quantidade tão baixa de votos, coloquei que o fato do postulante a prefeito ter ficado fora da cidade durante algum tempo pode ter prejudicado o seu contato com a população. Além disso, segundo alguns eleitores nas redes sociais e nas ruas, o vice na chapa afastava os votos no candidato a prefeito. Isso desencadeou a revolta de uma leitora (a quem interessar, essa é a parte do texto em questão http://semcensor.blogspot.com.br/2012/10/a-eleicao-2012-em-getulina-parte-ii.html).


No último domingo, como resposta ao meu artigo, a moradora publicou no jornal uma espécie de carta de repúdio a mim (que pode ser lida ao final deste texto). Por ser irmã do candidato a vice-prefeito na chapa derrotada, sentiu-se ofendida por entender que eu atribuí ao irmão o fracasso da candidatura. E teceu, ali, palavras pouco elogiosas a meu respeito.

Apesar de não ser agradável ler um conteúdo agressivo, direcionado, achei importante o veículo ter publicado a carta da cidadã indignada, ainda que eu tenha notado uma total falta de compreensão da parte dela em relação ao que eu havia escrito. Embora eu pudesse, a partir de argumentos, opinar que o irmão dela teria sido uma das causas do fracasso da chapa nas eleições para prefeito, não o fiz, usando somente o que ouvi e li de parte do eleitorado getulinense, sempre alertando que aquilo apenas indicava uma possibilidade.

Quem envereda pelo campo da política está fadado a se deparar com desagrados de todos os lados. Muitos dos nossos principais jornalistas que analisam política (esporte, cultura, economia...) acabam por ser acusados disso e daquilo, mas a competência termina por definir o apoio da sociedade, a despeito de uma ou outra ofensa direcionada por quem se sentiu atingido pela cobertura da imprensa.

Por trabalhar com a denúncia, a oposição, o jornalismo normalmente bate – e continuará batendo – em alguém. Até por isso, o jornalista não poucas vezes é vítima de si e da sociedade, que o cobra, de maneira justa, por um erro, uma negligência, uma cobertura mal feita. É inerente à atuação levar algumas pancadas. Elas estarão sempre por aí, nos rondando, tentando esmorecer o que o jornalismo tem de melhor.



CARTA DA LEITORA, PUBLICADA NO GJ DE 21 DE OUTUBRO DE 2012

*Reproduzida da forma como foi publicada, com alguns acertos de pontuação feitos por mim para que o texto se tornasse mais claro

THIAGO CURY
Tomei a liberdade de me apresentar, eu sou Alcione Aparecida Ducci Sioni, irmã de Wagner Sioni e de Mário Augusto Sioni. Você, por ser um “jornalistazinho”, deve saber do vice do Ulisses a quem você se referiu; Então: ele é meu irmão querido, e não admito que ninguém o ofenda e nem o agrida com palavras. Vai aqui a resposta que você pediu para ouvir, é o contrário do que você disse, o vice do Ulisses tinha que ter se candidatado com outra pessoa que mora em Getulina. Garanto para você que ele teria mais votos do que teve com o candidato a prefeito.

E outra Thiago, se você se identifica tanto e tem essa visão a respeito do Ulisses, quatro anos passa (sic) rápido, candidate-se com ele, não passe vontade, não. Seja corajoso como meu irmão foi e vamos ver se você é capaz o suficiente de aguentar o rojão. Não é o vice que elege o prefeito, é o prefeito que elege o vice. E estes (sic) 55 votos, a maioria foi da parte do meu irmão Peko’s. Não vou dizer que meu irmão agrada a todos, por quê (sic), nem Jesus agradou a todos, mas o pouco faz a  diferença. Agora, você nem aqui reside, só sapeia (sic) a vida alheia e dá palpite errado, você não precisa gostar do vice do Ulisses, não estou fazendo questão, não. Porque para mim, você nem me cheira, nem me fede. Você existindo ou não, para mim é a mesma coisa, não precisamos de você para nada.

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

A ELEIÇÃO 2012 EM GETULINA [PARTE III]

[continuação do post de ontem]

Como funcionam os quocientes eleitoral e partidário

O quociente eleitoral (QE) funciona da seguinte forma: dividindo o número de votos válidos (6142) pela quantidade de cadeiras na Câmara (9), temos um quociente de 682,4. Se pegarmos o número de votos em um partido ou legenda e dividirmos por esse quociente eleitoral (682,4), chegamos ao quociente partidário (QP) (que sempre será um número inteiro, exato, arredondado para baixo. Ex: se o número for 2,3, teremos 2, ou seja, duas vagas destinadas ao partido ou coligação na Câmara. Se o número for 1,9, é o equivalente a uma vaga. Se o quociente partidário for 0,8, o partido ou coligação fica sem representação, salvaguardada uma votação expressiva). À medida que o partido ou coligação, na disputa para uma vaga na Câmara, supera o quociente eleitoral, obrigatoriamente esse partido ou coligação tem o direito de ser representado, mesmo que não tenha tido tantos votos. Se o partido ou coligação chegar a 1.364,8 votos, ou seja, caso dobre a marca do QE, passa a ser representado por dois vereadores, e assim por diante.

Vejamos como isso acontece, usando números reais da nossa eleição: a coligação PTB-DEM-PSDB obteve, ao todo, 2.140 votos. A coligação PMDB-PSB somou 1.261 votos. A coligação PR-PV adquiriu 1.220 votos. PT e PDT entraram com chapas puras: enquanto o primeiro conseguiu 716 votos, o segundo marcou 264. Se nós pegarmos a quantidade de votos (2.140) da chapa PTB-DEM-PSDB e dividirmos pelo quociente eleitoral (682,4), teremos um quociente partidário igual a 3,13. Isso pressupõe que a coligação PTB-DEM-PSDB terá direito a três vereadores na Câmara. Fazendo o mesmo cálculo com os demais, teremos: PMDB-PSB com uma cadeira (1.261 ÷ 682,4 = 1,84); PR-PV com uma cadeira (1.220 ÷ 682,4 = 1,78); e PT com uma cadeira (716 ÷ 682,4 = 1,04). O PDT, por não atingir o quociente partidário mínimo (264 ÷ 682,4 = 0,38), não conseguiu eleger vereador.


Chegamos, então, a um resultado preliminar: são seis cadeiras ocupadas, a considerar o quociente partidário (3+1+1+1). As três vagas restantes são redistribuídas a partir de um novo cálculo: o número de votos no partido ou coligação é dividido pelo quociente partidário + 1. As três melhores médias referentes a partido ou coligação terão direito a mais uma vaga. É com esse calculo que chegamos aos números finais: PTB-DEM-PSDB ficaram com quatro vagas; PR-PV com duas; PMDB-PSB com duas; e o PT, como teve a pior média após o último cálculo, ficou com a vaga solitária que já havia conquistado. Portanto, Diguinho (PT) passa a ocupar a sétima vaga, Motoradio (PMDB) sobe à oitava e Alcides Despachante (PV) assume a última cadeira. Se os quocientes não existissem, ainda assim Diguinho estaria eleito, entrando na última vaga. Os seis primeiros no quadro final não foram eleitos pelos quocientes, mas sim pelo voto majoritário.

O quociente partidário da coligação PR-PV fez com que Alcides fosse puxado para cima, isso porque era o primeiro da lista entre seus correligionários, depois de Carlito. Lembremos: PR-PV tinha, obrigatoriamente, direito a colocar dois nomes na edilidade. Da parte da coalizão PMDB-PSB, o mesmo aconteceu com Motoradio, que sobe devido à chapa ter recebido muitos votos ao todo. Depois de Betobica, ele foi o segundo mais votado, e, pelas contas eleitorais, sua coligação tinha direito a dois vereadores na Câmara, independente da quantidade de votos recebida pelo político em si.

Neste mesmo caso, o inverso também se vê: Toninho Lima (DEM), pertencente à chapa PTB-DEM-PSDB, foi o quinto mais votado em seu grupo e o sexto no geral. Como essa coligação detém quatro cadeiras na Câmara, Toninho acabou por ser substituído por um candidato menos votado de outro “time”. Com Dinaldinho ocorreu o mesmo: ele teve votação para ficar em oitavo no geral, mas como sua coligação, a mesma de Toninho Lima, conquistou quatro cadeiras pelo quociente partidário, e ele foi o sexto dentro da chapa, também perdeu lugar. Olhe só outro ponto nada pacífico da democracia. A maioria, nesses dois casos, não prevaleceu, justamente porque as eleições para vereador, assim como deputado federal e estadual, são proporcionais, e não majoritárias.


Com todas essas contas, o que compensa mais? Candidatar-se por um partido que faça grande coligação ou optar pela sigla que ficará com chapa pura? Dentro de uma grande coligação, como foi o caso da PTB-DEM-PSDB, os integrantes se ajudam, pois elevam o quociente partidário, permitindo maior número de vagas a quem faz parte da coalizão. Mas, ao mesmo tempo, concorrem fortemente entre si, pois a “marca de corte”, ou seja, a votação mínima para conseguir ser um dos quatro acaba sendo muito elevada, acirrando a disputa entre correligionários. Quando um partido não coliga com outro(s), fica mais difícil de atingir o quociente eleitoral (682,4), como foi o caso do PDT. Mas, quando atinge, no exemplo do PT, elege um vereador mesmo sem este ter tido uma votação larga. Diguinho, por exemplo, teria a sua vaga garantida, ainda que recebesse 146 votos, e não os 179 que conseguiu. Caso seus companheiros do PT possuíssem a mesma quantidade de votos que tiveram, mesmo com 33 votos a menos o PT teria o quociente partidário mínimo, e o petista melhor colocado, o próprio Diguinho, seria eleito da mesma forma.

Entre números e análises, Getulina se prepara para o próximo quadriênio (2013-16), na esperança de que seus maiores problemas possam ser solucionados, mas também com a sensação de que poderia ter sido melhor. Certamente, cada eleitor conseguiria montar uma formação diferente para a Câmara, porque não foram poucos os bons candidatos que não venceram. Para prefeito, a cidade ficou praticamente dividida entre três postulantes. Como acontece em todos os pleitos, o nosso período eleitoral teve muita frase de efeito, candidatos dizendo que fariam mundos e fundos, mas poucos demonstrando de que maneira tudo seria viabilizado. Falta à maioria dos nossos políticos empreender um alto nível nas discussões, postulantes que discutam a fundo os problemas da cidade, sem interesses pessoais ou partidários. Carece a eles encarar a política de forma mais madura, porque falta a nós, eleitores, o entendimento do nosso real papel dentro desse processo.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A ELEIÇÃO 2012 EM GETULINA [PARTE II]

[continuação do post de ontem]

Algumas análises sobre o resultado

O dado que mais chamou a atenção após o resultado final foi a disputa apertada envolvendo os três melhores posicionados na corrida pela prefeitura: entre Gutão e Toninho Maia a diferença foi de 231 votos. Do segundo colocado para Chiquinho, 166 votos. O prefeito eleito obteve somente 397 eleitores a mais que o terceiro colocado. Em uma eleição com cinco candidatos a prefeito e uma concorrência acirrada entre três deles, dividindo com certa equidade as escolhas, Gutão teve a preferência de pouco mais de 30% da população getulinense. Isso significa que quase 70% dos cidadãos daqui não tinham Gutão como primeira opção, e eis aí o maior desafio ao mandatário a partir de 2013: governar uma cidade em que a maioria não o escolheu. Chega a ser contraditório, mas a democracia tem disso.

Ainda no âmbito do Executivo, o outro desafio de Gutão será governar com uma Câmara tão desfavorável do ponto de vista político-partidário. A sua coligação (PMDB-PSB) só elegeu dois vereadores. Caberá, agora, ao político um faro apurado para negociar apoio dos partidos, em tese, de oposição. O grande risco dessas negociações políticas é que as barganhas podem se sobrepor aos interesses e necessidades do município, e as concessões são feitas sem um critério rigoroso, em nome da governabilidade. É evidente que esta conjuntura de “situação/oposição” é mais praticada em âmbitos estaduais e federal, mas pode ocorrer aqui de termos uma Câmara sendo resistente às pretensões do prefeito. Mesmo porque o brasileiro é escaldado e sabe que o jogo político, não em poucas vezes, funciona mais em função do poder do que com vistas ao bem social. Getulina e a sua população devem pairar acima das vaidades partidárias e dos interesses particulares, já que os eleitores têm o controle de colocar – e tirar – quem julgar merecedor ou indigno do cargo.


Se Gutão, Toninho Maia e Chiquinho concentraram altos índices de votos lá em cima, Jota e, principalmente, Ulisses foram muito pouco votados. Este último atingiu pouco mais de 50 escolhas, e em um pleito para vereador não teria sido eleito mesmo que recebesse o triplo de votos que teve para prefeito. Há duas possibilidades para se compreender isso: não foram poucas pessoas nas redes sociais e nas ruas que demonstraram descontentamento com o seu vice. Outro fator provável: Ulisses ficou fora de Getulina por algum tempo, acabando por perder o contato com grande parte da população, algo que seus adversários conseguiram manter. Se o vice fosse outro e o candidato tivesse permanecido no município, talvez não vencesse, mas a quantidade de votos seria mais alta, nada difícil diante da cifra tão irrisória que recebeu.

Na eleição para legisladores, três darão continuidade aos seus mandatos: Carlito, Maninho e Betobica. Os outros seis vêm de fora, o que pode ter representado uma insatisfação do getulinense com a edilidade atual. Dos seis novos eleitos, Alcides Despachante retorna após quatro anos fora, enquanto que Edinedi, Fátima Bernardes, Fio Caliani, Diguinho e Motoradio encaram seus primeiros mandatos. De quem está lá atualmente, Toninho Lima, Dinaldinho, Pina Auto Escola e Mário Nohara não conseguiram se reeleger. Jota e Toninho Maia, atuais vereadores, não retornarão à Câmara em 2013, pois foram candidatos a prefeito.

A mudança mais drástica nesta eleição foi o fato de duas mulheres entrarem na Câmara. Edinedi (PTB) e Fátima Bernardes (PSDB) foram as mais votadas entre todos os 73 candidatos. Segundo dados do Censo 2010 realizado pelo IBGE (www.ibge.gov.br/cidadesat), em Getulina há somente 957 homens a mais do que mulheres (5861 homens - 4904 mulheres). Portanto, nada mais natural que termos representantes do sexo feminino. Mesmo assim, a desproporção é grande ainda (7 homens para 2 mulheres), levando-nos a concluir que o número de legisladoras poderia ser maior. Antes de Edinedi e Fátima, Getulina teve apenas duas vereadoras: Valentina Loyola, na 2ª legislatura (1948-1953), e Guiomar Rodrigues de Morais, na 11ª legislatura (1993-1996). Apesar de não constar qualquer informação sobre a primeira geração de vereadores, além de haver poucos dados sobre a sétima, é muito provável que, até hoje, nosso município tenha tido apenas essas duas representantes do sexo feminino. Tudo de acordo com o portal www.camaragetulina.sp.gov.br.


Se por um lado vimos mudanças, há também as figuras conhecidas de outras eleições. O dado que mais chama a atenção é referente a Carlito. O atual vereador, que conseguiu reeleição, irá para o seu sexto mandato. Com base no site da Câmara, o político do PR foi eleito pela primeira vez em 1989 e, de lá para cá, só não conseguiu vaga na Câmara nas eleições de 2000. Ao final de 2016, Carlito irá completar 24 anos como legislador em Getulina. Maninho, do PSDB, vai para a sua quarta legislatura consecutiva, já que desde 2000 vence a corrida eleitoral. Toninho Maia e Dinaldinho, que estarão fora no próximo quadriênio, continuarão com três mandatos. Pina Auto Escola, também fora, soma dois, mesmo número que terá Alcides Despachante e Betobica quando 2016 encerrar. A repetição demasiada pode representar três cenários: 1) o político faz um trabalho correto e ganha a confiança do eleitor; 2) o vereador não faz bons mandatos, e a sua reeleição prova que o eleitor vota mal; 3) o votante não tem olhar crítico e criterioso sobre a política local, e acaba escolhendo alguém por afinidade, troca de favores ou alienação.

Os candidatos e atuais vereadores Toninho Lima (DEM) e Dinaldinho (PSDB) foram vítimas dos quocientes eleitoral e partidário, previstos nos Artigos 106 e 107 da Lei nº 4.737/65. Mesmo tendo votos para ficarem entre os nove, não foram eleitos, pois como cada partido ou coligação tem uma quantidade determinada de cadeiras no legislativo, de acordo com a votação que recebe, eles acabaram por ficar de fora, já que seus correligionários ocuparam as vagas destinadas à chapa. Dentro da sua coligação, Toninho Lima foi o quinto mais votado, sendo que sua chapa tinha direito a quatro integrantes na Câmara. Dinaldinho, do mesmo “time” de Toninho, foi o sexto com mais escolhas dentro do bloco PTB-DEM-PSDB, e acabou excluído. Isso prova que a lei eleitoral entende que o povo vota no candidato, mas também no partido. Ao menos no grupo de discussões sobre a Eleição 2012 em Getulina, no Facebook, alguns cidadãos manifestaram discordância em relação a essa lei.

[continuação no post de amanhã]

terça-feira, 16 de outubro de 2012

A ELEIÇÃO 2012 EM GETULINA [PARTE I]

A votação em números

Eram 18h13min do domingo, 7 de outubro, quando a Justiça Eleitoral, por intermédio de um programa disponibilizado no site do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), finalizou a apuração dos votos aqui em Getulina. Pouco mais de uma hora após o término da votação, os moradores da cidade já sabiam quem seria o prefeito de 2013 a 2016, além dos nove vereadores que ocupariam a Câmara no próximo ano. Se foi uma contagem de votos rápida? Foi incrivelmente veloz, a ponto de a maior cidade do país, São Paulo, conhecer os seus representantes pouco depois das 22 horas. O Brasil pode se orgulhar disso.

Aqui, deu Gutão. O candidato do PMDB, que tem como vice o professor Pina, obteve 1.990 votos, ou seja, 32,62% das opções. Em segundo lugar ficou Toninho Maia, do PTB, com 1.759 escolhas, o equivalente a 28,84% dos votos válidos. O candidato Chiquinho, do PDT, ficou na terceira colocação com 1.593 votos, ou 26,11% do total validado. Jota, do PT, teve 703 votos (11,52%) e Ulisses, do PPS, reuniu 55 votos (0,9%).

No pleito para vereador, tivemos: Edinedi (PTB) com 285 votos (4,64%); Fátima Bernardes (PSDB) com 267 (4,35%); Fio Caliani (PTB) com 246 (4,01%); Carlito (PR) com 225 (3,66%); Maninho (PSDB) somou 220 (3,58%); Betobica (PMDB) teve 202 (3,29%); Diguinho (PT) angariou 179 votos (2,91%); Motoradio (PMDB) aglutinou 174 (2,83%); e Alcides Despachante (PV) conquistou 165 eleitores (2,69%). Toninho Lima, do DEM, que teve 204 (3,32%), e Dinaldinho, do PSDB, com 182 (2,96%), embora tenham sido mais votados que Diguinho, Motoradio e Alcides, perderam as cadeiras na Câmara por causa dos quocientes eleitoral e partidário. Mais à frente falaremos sobre esses cálculos.


No total, Getulina tem 10.765 habitantes, de acordo com dados do Censo 2010 realizado pelo IBGE (www.ibge.gov.br/cidadesat). Desse universo, nem todos votam aqui, da mesma forma que eleitores residentes em outras localidades vieram a Getulina no último fim de semana só para votar. O fato é que o eleitorado do nosso município registra 8.485 pessoas. Dessas, 1.929 não votaram, fazendo com que a abstenção chegasse a 22,73%. Isto é, 6.556 cidadãos, ou 77,27% do universo de eleitores, foram às urnas no último dia 7.

Dos mais de 6.500 eleitores que compareceram às 25 seções de votação, 283 (4,32%) anularam seu voto para prefeito, enquanto que 173 (2,64%) votaram em branco na eleição para o Executivo. Esses votos não são contabilizados, restando como válidos um total de 6100, ou 93,04% dos presentes. No pleito para vereador, dos 6.556 eleitores que votaram no domingo, 6.142 (93,69%) escolheram alguém ou uma legenda. Foram 5.601 votos espalhados por 73 candidatos, enquanto que 541 eleitores optaram pelo voto na legenda (ao invés de digitar os cinco números de um candidato a legislador, o votante aciona só os dois primeiros referentes a um determinado partido, e essa escolha auxilia a sigla e, consequentemente, a coligação (se for o caso) a atingirem uma preferência maior). Fora isso, 264 cidadãos (4,03%) anularam seu voto para vereador e 150 (2,29%) digitaram a opção “branco”.

[continuação no post de amanhã]

segunda-feira, 15 de outubro de 2012

O PALMEIRAS CAMINHA PARA O DESCENSO, MAS AINDA NÃO É O FIM

Esqueça os cálculos. O futebol não se limita a uma conta ou outra, e, justamente por isso, é o disparate mais amado e odiado no mundo. Não há lógica e coerência. Apenas o sentimento incondicional de ver o clube do coração vencer, não sem antes sofrer e tremer de medo frente à iminência da derrota. Mas tentemos analisar com razão um esporte que de racional nada tem. Não fosse passional, o futebol não seria o que é. Seria, sim, uma modalidade qualquer, como o mais chocho dos esportes.

A situação do Palmeiras é terrível, e não faltam palpiteiros e torcedores a jogar a toalha, decretando o segundo rebaixamento do alviverde, dez anos depois do insucesso do time de Levir Culpi. O Verdão parece fadado a cair, ainda que esse mesmo futebol já tenha pregado peças em profetas de todos os lados. Nem a imprevisibilidade bretã parece resistir a um Palmeiras tão medonho.

Primeiro, o time é fraco. Em outros tempos, a maior parte dos titulares não serviria como terceira opção. Thiago Heleno, Leandro Amaro, João Denoni, Márcio Araújo, Obina, Luan, Betinho, Patrick – só pra citar os titulares de hoje – são péssimos, e o clube teria dificuldades para retornar à primeira divisão, caso descesse, com um time desses. Valdívia, o Mago, que mais fica fora do que joga, quando atua é nulo, porque não fez gol, nem deu assistência neste Brasileiro-12, e ganha fortunas. Se salvariam Bruno, Henrique, Marcos Assunção e Barcos. Talvez Wesley e Maicon Leite, também, porém pouco atuam por motivo de contusão.


Não nos esqueçamos de Luiz Felipe Scolari, o ex-técnico, que chegou com status de grande campeão e gravado na mente palmeirense como vitorioso na primeira passagem pelo clube, conquistando o êxito mais importante da história da Sociedade Esportiva. Felipão envelheceu, não se atualizou, e percebeu que não dá mais para pegar um time meia-boca – embora nem isso o atual Palmeiras seja – e fazê-lo ganhar. Taticamente, o futebol se encontra em um novo estágio, nível este que Scolari não galgou, parando no tempo com os pré-requisitos da pegada e do incentivo psicológico. Foi conivente com a contratação e escalação de vários desses jogadores.

Mesmo assim, fez o Palmeiras campeão no primeiro semestre. A Copa do Brasil veio, sobre o Coritiba, para tirar um jejum de quatro anos e dar de volta ao clube a vaga na Copa Libertadores do próximo ano. Enganou-se quem julgou o time capaz só pelo troféu ganho, porque em Copas, em partidas mata-matas, um time ruim pode fazer um jogo bom, abrir confortável vantagem no primeiro confronto e assegurar a classificação para a fase seguinte. Mesmo sem jogar bem, avança. Nos pontos corridos, se fizer uma ou duas partidas convincentes em meio a uma série, encalha ou afunda.

Perder os mandos só tornou mais dramática a trajetória no campeonato. Por culpa de alguns torcedores, o clube foi punido, tendo que jogar a mais de 150 km da capital. No primeiro teste em Araraquara, derrota ante um concorrente direto, no último minuto, de pênalti, com a crueldade que tem sido pouco amiga do Porco. Sair de São Paulo, a essa altura da competição, foi mais uma pá de terra na cova. Convenhamos, a torcida paulistana é bem mais vibrante a numerosa que a interiorana. O povo daqui é mais quieto, sossegado e, neste caso, intercede menos em prol do time. Na atual conjuntura, o Palmeiras necessita que a massa empurre os jogadores para frente, à vitória.


Politicamente, o clube está esfacelado. Não há unidade, o discurso diverge e não existe no Palmeiras a dedicação de todos à entidade. Os grupos se viram contra a instituição, em favor de seus interesses. Aparentemente, boa índole não faltou a Tirone e Belluzzo, atual e último ex-presidente do clube, mas a falta de capacidade administrativa de ambos somada ao esforço dos grupos oposicionistas em tumultuar o ambiente comprometem o Verdão há alguns anos, desde a saída da Parmalat. Contrata-se mal, fazem-se times pouco competitivos e o torcedor sofre.

A tabela do Palmeiras não é nada animadora. Nos oito jogos que restam, na ordem, o time irá enfrentar: Bahia (F), Cruzeiro (C), Internacional (F), Botafogo (C), Fluminense (C), Flamengo (F), Atlético Goianiense (C), Santos (F). A única partida fácil talvez seja a penúltima, contra um Atlético já rebaixado. Além de enfrentar times com alguma pretensão no campeonato, o elenco palmeirense não inspira confiança. Independente dos adversários, é fato que o Palmeiras, enquanto clube, faz um esforço grandioso para ser vexame outra vez.

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

MALAFAIA, O PASTOR, APONTA NOS OUTROS O QUE É DOS SEUS

Religião e Política. Escrevi sobre isso nesta semana, como vejo a mistura dessas duas instituições que, até o advento da República, eram indissociáveis. Tudo parece regredir. Haddad vai à missa, Serra recebe apoio de Malafaia. Não há a preocupação em aperfeiçoar o espírito. São só interesses, seja do lado partidário, seja do time cristão.

Acho que Serra passou do tempo e o governo do PSDB não é dos meus favoritos, pois restritivo, contrariando a essência da política. Haddad concebeu a proeza de falhar em dois ENEM's seguidos, como ministro da Educação. Não legislo por ninguém.

Sou contrário às religiões, pois acho que todas têm um vínculo muito humano, como é natural ser, e mais distorcem do que esclarecem uma definição sobre Deus, um estreitamento do contato espiritual entre homem e divindade. Ora por má fé, ora por limitação inerente, falham na missão que, reconheço, é árdua, de tornar racionalmente lógico aquilo que não se pode ver ou tocar.


Nesse jogo entre política e religião, alguns evangélicos parecem exceder mais, e digo isso mesmo tendo amigos, alunos e minha querida Giovanna como pessoas pouco ou muito alinhadas às nomenclaturas pentecostais.

Ouvir o pastor Silas Malafaia chamar Haddad – ou seja lá quem for – de preconceituoso é de uma hipocrisia abissal, comparada ao período conduzido com arreio, chicote e fogo pelo catolicismo. Só falta a Malafaia, por exemplo, entender que homossexualidade não é pecado, porque ninguém peca por não ter controle sobre suas escolhas, por amar de modo a infringir um falso código moral de um grupelho, por querer alguém, naturalmente.

O pastor tem a sua igreja, programas na TV, mas não se contenta com "só tudo isso". Não me surpreenderia vê-lo candidato em 2014 ou 16. Como se não bastasse todo esse repertório, o dedo em riste é corriqueiro. Só para emaranhar ainda mais política e religião e comprovar o conservadorismo de ambas e da sociedade brasileira.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

EU NÃO DESEJO QUE O DESFECHO SEJA CRUEL COM CARMINHA

Não que eu seja um telespectador assíduo de Avenida Brasil. Pelo contrário. De toda a novela, eu devo ter visto uns 10% da trama. Só que como o país discute mais do que deveria esse assunto, é possível saber, mesmo que por cima, quem é quem na história de João Emanuel Carneiro. Enquanto Nina (Débora Falabella) e Carminha (Adriana Esteves) são terrivelmente más, Tufão (Murilo Benício) é um otário, daqueles que nos fazem querer tê-lo como nosso credor ou gerente de um banco.

Em tese, a vilã da história é Carminha, e o clamor popular atua no sentido de que ela se lasque na sexta-feira da semana que vem. Ou até antes, se possível, embora, ao que consta, ela já tenha passado por maus bocados no meio da novela. O apelo é pela vitória de Nina, mas, imperceptivelmente, torcemos por ela, pois, assim como a personagem vivida por Falabella, somos hipócritas. Aceitamos as nossas barbaridades. As dos outros, jamais. Nina é tão cretina quanto Carminha, embora aquela tenha a seu favor o fato de haver sido uma criança sofrida. Se Mandela fizesse vingança, a África do Sul estava a se matar até hoje.


Sou contra a derrota de Carminha. Se a arte reproduz as vicissitudes da vida, nada mais justo a personagem de Adriana Esteves triunfar. Lembro-me do final da novela Passione, de Silvio de Abreu, em que Clara, interpretada por Mariana Ximenes, barbarizou a vida de Totó (Tony Ramos). No fim, enquanto seu comparsa Fred (Reynaldo Gianecchini) terminou na cadeia, ela conseguira escapar, livre de qualquer perseguição, em um país de raras belezas naturais. Ela enganou e matou, mas venceu, e afrontou o senso comum, porque o público gosta de tudo muito fácil e correto. Só que de facilidade e correção a vida – e o próprio telespectador – não tem nada.

O que se ouvia era: “Como a vilã não morreu ou foi presa? Olha o exemplo que a novela dá!”. E a realidade, caro internauta, que exemplo concede à ficção? Nenhum. O cotidiano é repleto de injustiças, desencontros e canalhices por todos os lados: no trabalho, tem sempre algum safadinho querendo te ferrar; nas ruas, quantos já não tentaram te passar a perna? Na política, sobram representantes que compram votos, que descumprem promessas, que te fazem de Tufão. E que você e eu não nos eximamos dessas culpas, porque é da nossa índole a malandragem aqui e acolá. A maior parte de todas essas coisas não é punida. Por que Carminha há de ser?


A condescendência com a afronta e o crime é tamanha, que ao vermos o STF botar os corruptos no xadrez exaltamos os ministros, especialmente os que votaram pela condenação. No fundo, eles não fazem nada além do básico, que é punir quem infringiu as normas que regem a sociedade e que devem ser válidas a todos, abastados e miseráveis. Mas como a justiça se tornou virtuosa, ao invés de ser praxe, ficamos incontidos quando a bagunça é desfeita e as peças, botadas em seus respectivos lugares.

Ao maravilharmo-nos com a punição a Zé Dirceu, Genoino, Delúbio, Marcos Valério, Roberto Jefferson, afirmamos que a vida é recheada de desilusões. Se as mesmas frustrações daqui estiverem lá, na tela, haverá ali um retrato pouco caricaturesco da vida real.

Que Nina case, seja com quem for. Que Tufão use a sua experiência de enganado para abrir mais os olhos. Que Carminha termine bem, sem morrer, sem ser presa, porque a resolução de todos os nossos problemas, verdadeiros ou fictícios, não passa, necessariamente, pelo abatimento dos incansáveis vilões.

terça-feira, 9 de outubro de 2012

MAIS IDEIAS E MENOS SHOW

Tive a oportunidade de assistir a um trecho do debate entre o democrata Barack Obama e o republicano Mitt Romney, candidatos à presidência dos Estados Unidos. O pleito norte-americano acontece em 20 de novembro. Tirando o fato de que Obama estava estranhamente desconfortável, o que favoreceu o adversário, mais incisivo, o confronto entre ambos serviu para escancarar ao Brasil que o nível das nossas eleições é raso. E é bem possível que a gente viva sob essa égide por mais algum tempo. Por aquelas bandas, o político encara a eleição com maturidade e seriedade, esclarecendo ao cidadão a real dimensão do contexto atual e daquilo que precisa ser feito.

Não que a lucidez e o tom civilizado devam ter presença integral ao longo de toda a campanha nos EUA, mas que a exceção à regra é o escândalo, a histeria, isso parece estar posto de modo bastante claro. Por lá, o que se viu foi uma discussão estritamente técnica, envolvendo temas como economia e saúde. Seria tolice da parte de Romney não apontar falhas nos quatro anos de mandato do seu oponente, mas tudo feito de modo educado e, o principal, oferecendo alternativas – viáveis ou não. Quem se interessar por acompanhar o debate completo da última semana entre os presidenciáveis americanos, sem legenda e dublagem, basta acessar http://www.youtube.com/watch?v=aYKKsRxhcro.

Aqui acontece o oposto. A despeito de algumas raridades, o candidato parte para a baixaria, às acusações pessoais, ou lança mão das frases de efeito, os clichês que acabam por tocar a carência e esperança do eleitorado mais órfão, mas que são desprovidos de consistência. Não é suficiente ao postulante a cargo político afirmar que “a população merece uma cidade melhor”, que “é hora da mudança”, que “juntos faremos uma sociedade melhor”. Eu ficaria perplexo se algum candidato pregasse o inverso disso. No país das maravilhas, a Alice sabe que tudo será feito, mas a forma como as benfeitorias serão viabilizadas é que é o cerne da discussão. Sobre as acusações, não adianta afirmar que o oponente é cretino, se o acusador não prova por A + B que é mais capacitado que ele.


Como a imprensa é responsável, na maior parte do tempo, por inserir na sociedade e na própria agenda dos candidatos a tônica da disputa, recai sobre o jornalismo o papel de exercer o seu trabalho com a frieza que pede a ocasião, sem vender uma neutralidade inexistente ou saltitar diante de picuinhas que não trarão benefícios ao pleito. Além de ter um lado, a imprensa brasileira é uma jovem atuante no processo eleitoral, porque o mesmo retornou há pouco mais de 20 anos, e isso faz dela incapaz em momentos pontuais da corrida. O nosso jornalismo, especialmente o mais robusto, ainda tropeça na vontade de fazer um bom trabalho e nos interesses escusos que perpassam as empresas midiáticas mais graúdas.

Além de canais de informação pouco maduros e políticos mal preparados – intencionalmente ou não – a outra ponta dessa equação é ocupada pelo próprio eleitor brasileiro, que ainda não possui bagagem suficiente para encarar um confronto mais maçante entre candidatos, onde se debatam problemas e soluções para as cidades. É muito mais agradável acompanhar troca de acusações ou uma aparição mais folclórica e humorada, do que se concentrar, informar-se e compreender uma discussão mais cirúrgica e propositiva. Embora o “Efeito Tiririca” tenha sido menos presente nessas eleições, há que se ter um eleitor menos alienado.

Enquanto a imprensa informa sobre este e aquele desvio do candidato, no passado ou no presente, enquanto a justiça se incumbe de punir quem se enquadra em crime eleitoral, civil ou penal, o cidadão olha para a disputa em Washington e percebe que Obama e Romney não teriam muita chance aqui. Porque, de um modo geral, o eleitor brasileiro entra na tendência avacalhada do nosso processo eleitoral, com frases bonitas e troca de animosidades gratuita, e se esquece de que é necessário aos postulantes discutir a cidade e suas carências. Ah, o votante se esquece também de que ele próprio precisa dialogar e tomar ciência sobre o lugar onde vive.

segunda-feira, 8 de outubro de 2012

A CÉSAR..., A DEUS...

Impressionante como política e religião se misturam cada vez mais, especialmente em período eleitoral. E não dá pra saber ao certo se o político irá corromper o religioso ou se este tornará o político alguém pior, tamanhas são as sacanagens nos dois âmbitos. Padres e pastores se candidatando não faltaram, assim como não faltou por parte de quem era candidato empenho em buscar apoio nas agremiações de maior apelo. As religiões agradecem.

Até 1889, ano em que houve o advento ao regime republicano, o Brasil tinha o catolicismo como religião oficial, ranço que ainda perdura num país que tinha tudo para ser liberal, mas é conservador como poucos. A levar-se em conta toda a opressão social e econômica sofrida ao longo dos anos, a nossa elite, afilhada dos interesses dominantes internacionais, é grata ao fato de o Brasil se enraizar nessa passividade revoltante. O fato é que a partir de 15 de novembro de 1889 esse país se tornou laico, e nada de limitar aos cidadãos, goela abaixo, esta ou aquela nomenclatura religiosa.

Algumas dúvidas surgem: não há choques entre empreender uma ideia religiosa, que busca abarcar pessoas, independente de outros posicionamentos, e ao mesmo tempo atuar na política partidária, que tem como marca ser uni ou bilateral, apenas? Os candidatos não usam suas condições de conselheiros espirituais para ganhar votos, já que arrebanham ali, em uma única seção ritualística, centenas de pessoas? O dinheiro que permeia as instituições religiosas não é taxado. Diante disso, como é usado esse capital? As “nomenclaturas da fé” que apóiam candidatos querem o quê em troca da coalizão?



Em suma, até por prudência, melhor não misturar as esferas, porque o “candidato cristão” sai em vantagem por se relacionar com uma massa que está ali, ao menos em tese, por questões espirituais, e não concretas, como é o caso da política, que além de lidar com problemas de ordem material tem como marca a troca de favores e influência e o conchavo de interesses. Convenhamos, não é – ou não deveria ser – por esse viés que a religião atua. Mantendo os templos fora da disputa, a religião volta a abranger como lhe é de dever, e não restringir. Sobre as finanças, assim como não acontece em poucos casos, a prática de reinvestir a verba doada por fiéis em veículos de comunicação é tão atabalhoada quanto tirar o dinheiro dos centros religiosos e levá-lo à política. Do contrário, é vantajoso ao extremo angariar o “capital de Deus”, limpo, sem escalas.

Não pensem as outras religiões que essa aliança questionável é privilégio só de católicos e evangélicos, enquanto os demais são inalienáveis. As duas religiões estão mais envolvidas nesse processo, pois são as que detêm o maior número de seguidores e, aos olhos da política, isso tem viabilidade hedionda. Se as demais fossem maiores, estariam igualmente ligadas à política. Nesse ramo, nada é feito sem barganhas, e as instituições menores não têm muito a oferecer.

No texto de amanhã, as diferenças entre as eleições daqui e dos Estados Unidos que, em 20 de novembro, definem o próximo presidente. O que a disputa entre Obama e Romney tem a nos ensinar.