quarta-feira, 14 de novembro de 2012

OS RELACIONAMENTOS TENDEM AO FRACASSO

Pode até ser radicalismo de minha parte, mas não se assuste ou revolte. Você, homem ou mulher, há de concordar que a vida a dois, num relacionamento homo ou hetero, tem os seus percalços, e não são poucos. Não me entenda como um pessimista ou não-romântico. Eu posso não ser o mel em pessoa, mas impossível não reverenciar o amor. É justamente e somente ele que nos dá objetivos, que concede um norte à vida, que nos faz capazes de atitudes inacreditáveis. Ame, muito, a despeito do perigo de sofrer. Se o medo for maior, anula-se qualquer chance de subverter as intimidações e não haverá realização própria da qual gabar-se adiante, no fim da vida.

Mas, bonito ou não, o amor está mais próximo do término que do triunfo. A relação é a soma de duas individualidades que, ao longo do tempo, podem se transformar em unidade. Se isso ocorrer, felicidades a ambos, porque bem sucedidos ao unirem-se em torno de uma causa apaixonada. Se cada um for muito parecido, pouco se ensina, pouco se aprende. O contato humano serve ao desenvolvimento mútuo, de natureza social, intelectual, cultural, financeira. Se for para estagnar, pra que dividir tudo com alguém? Por outro lado, se os dois forem muito diferentes, haja divergência. Um intimida o outro, barra qualquer pretensão mais ousada ou é autor de ato invasivo. Os opostos nem sempre se atraem. A afinidade é um ponto a se considerar.

Quando se acha o meio termo, tem-se a lida diária da conquista, aquilo que não permite ao amor a rotina, elemento capaz de destruir o olhar apaixonado que outrora permeava a intimidade. O sexo pode ser ótimo. O beijo, também. Mas se uma palavra doce não escorregar daqui, um carinho tenro não pular dali, é o fim. Porque aquilo que é físico, carnal, acaba. Ou melhor, muda. Os parceiros se adéquam à idade, e o ânimo da juventude se esgota, pois chato seria se a empolgação vazia se perdurasse ad infinitum. Cada coisa a seu momento, para que o tédio não seja repleto de melancolia ou agitação. Tanto uma como outra geram a rotina.


A mesmice sempre ronda, porque o amor tem dessas coisas de acomodação. O homem (a espécie) busca o sossego, e a história humana, em seu desenvolvimento antropológico, mostra que a nossa subida rumo à excelência anseia pelo “fazer menos”. A tecnologia, em suma, é produto disso: a inteligência humana trabalhando em favor de uma vida mais cômoda, sem cansaço. Eu não quero ir até a TV para ligá-la. Quero fazer isso sentado. Não quero mais cozinhar. Quero um aparelho que o faça pra mim. Não quero ficar preso a um ponto da casa para telefonar. Quero fazer isso de qualquer lugar. E vão surgindo as invenções.

Os grandes inventos aparecem da vontade que a espécie humana tem de cada vez fazer menos. O curioso é que, no caso do amor, mesmo sem propor nada novo, obtém-se a calmaria plena, nociva ao relacionamento. Enfim, sem atuar, os atores conseguem o que desejam: o ócio. Fácil, fácil. Não é mais simples o amor permanecer. Na verdade, quando começa, ele está fadado ao término. É por isso que os casamentos longos, os relacionamentos duradouros, que preservam força e felicidade, merecem o reconhecimento de que ali, em meio ao afeto daquelas duas pessoas que se amam, houve e ainda há o empenho em continuar como estão. Porque a vida só faz mais sentido assim.

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