quinta-feira, 26 de setembro de 2013

QUANDO AMBOS MENTEM NUM RELACIONAMENTO

O texto de hoje vai pra você, que já caiu no falso discurso bondoso e compreensível da mulher que está ao seu lado. Porque o tempo juntos, a longevidade do relacionamento, faz com que a gente acredite que as nossas cagadas (todas elas) possam ser perdoadas incondicionalmente. O pior de tudo é que cremos nisso, pois a outra peça da relação assume que não te porá contra a parede, caso você confesse “um crime”.

A situação mais clássica – que já aconteceu comigo e deve ter ocorrido com você também – é quando passa uma mulher ao seu lado, e a sua companheira, antes mesmo de você, nota que a criatura em movimento é uma das coisas mais lindas que já pairaram na Terra. Sucede a essa conclusão a velha pergunta manjada de toda mulher temerosa: “você achou aquela moça bonita?”. Na sequência, a afirmação (também dela): “pode falar a verdade, eu não vou ficar brava”. Aí é que mora o problema...

Porque a causa de toda a guerra mundial do casal que virá após a sua resposta, caso ela seja positiva, é justamente aquele adendo à pergunta, quase que de forma despretensiosa, aparentemente sem querer (“pode falar a verdade, eu não vou ficar brava!”), mas que é uma arma poderosa da mulher para “espremer” o macho adiante (algo semelhante ao jargão policial “tudo o que disser poderá ser usado contra você no tribunal”). E o homem – ou a outra mulher – da relação, despreparado, desatento e inocente, cai feito um pato, cometendo o maior erro que alguém pode praticar nessa situação: dizer a verdade.


Esta é uma verdade que jamais pode ser revelada. Por mais inacreditável que seja a mulher a desfilar ao seu lado, a deixar aquele perfume que ficará entranhado na sua alma, não diga que a achou linda. Se possível, jure de pés juntos, joelhos no milho e mãos-postas que nem sequer viu a moça. É evidente que não é correto mentir, mas essa é uma pendenga que você resolverá com o Todo Poderoso só depois, daqui a sabe-se lá quanto tempo. Enquanto o Juízo Final não vem, para o bem da paz mundial, minta.

Essa é a famosa mentira que protege a própria mulher e, claro, a si mesmo. Porque se a sua resposta for “sim, eu achei aquela moça bonita”, dentro de poucos minutos a sua querida companheira estará com a auto-estima lá embaixo, se achando a obra mais cretina concebida pelo mundo, temendo que você irá largá-la para ficar com a outra que acabara de achar apenas bonita. Sejamos realistas: a sua vida vai virar um inferno, ainda que por pouco tempo. Em suma, achar outra pessoa bonita é algo tão banal, posto que outras pessoas são inevitavelmente bonitas, mas tal julgamento se transforma numa paranoia incontrolável na cabeça da mulher.


Temos, então, o célebre efeito borboleta. Uma palavra mal posta aqui, uma opinião não tão bem sucedida ali, um adjetivo atribuído ao substantivo errado acolá, e bang! Toda a lógica do tempo e dos acontecimentos premeditada por Deus é desestabilizada, e já era a calmaria. Você será crucificado por uma boa porção de minutos. Por isso, para evitar o caos, mesmo que ela venha com o olhar meigo e a voz doce, brade a palavrinha que manterá em voga o bem de todos e a felicidade geral dos dois: “Não! Não vi graça nela” ou um desprezível “Não! Nem reparei...”.

Do contrário, você terá de desempenhar o trabalho psicológico que é inerente a quem se relaciona com uma mulher: o de desfazer a tristeza e o ódio dela por você. Uma vez que se você for frágil, cair na armadilha e responder “sim, achei a criatura bonita”, você encontrará a sua amada desolada ou enfurecida e, logo após indagar “por que você tá triste? O que aconteceu?”, ela te fará o maior culpado de todos os tempos usando algumas poucas palavras: “você achou ela bonita...”.


Ocorre que toda pergunta feminina (como a do tipo “você achou aquela moça bonita?”) é retórica: ela indaga, só que exigindo de você a resposta que ela quer. É a única situação em que uma interrogação não está aberta a várias possibilidades, e ai de você – namorado, noivo, marido ou igualmente mulher – se não souber qual a resposta correta a dizer. Nunca é demasiado recordar: só há uma mísera opção de resposta, uminha da silva. É prudente, pois, que você esteja atento a ela, se quiser sair ileso de uma discussão de relacionamento.

Em caso de erro – e é importante lembrar que existe uma chance enorme disso ocorrer –, talvez você tenha que perder o futebol de logo mais pra convencer a amada de que, mesmo achando outras mulheres lindas, é ela que você quer, porque a outra, além de não possuir metade da beleza dela, simplesmente não é ela, a pessoa em meio a milhares que você escolheu para ficar ao seu lado a vida toda. Minta, admita em silêncio a beleza da outra e confirme aos quatro cantos que, a despeito de todas as maravilhas que te circundam diariamente, é a sua mulher que te faz feliz como nenhuma outra.